A reportagem de hoje é mais que um simples “# throwback Thursday”. A história do dia em que Paulo Apocalypse enfim foi pra pista com o kart que havia comprado há tempos será recontada. O The Kart Championship fez parte desta história, e pouco mais de um ano depois, relembra os acontecimentos e traz detalhes inéditos daquele dia que ficará pra sempre na memória do piloto e de todos que participaram daquela aventura.
Dia 22 de outubro de 2016. Era dia de etapa do campeonato da ADPkart, competição voltada para karts próprios (popularmente conhecidos como “karts profissionais”), e que já realizou corridas de várias categorias, a mais popular é a F400, com motores 4 tempos.
Nos campeonatos da ADPkart, o piloto não inscrito no campeonato podia correr em uma etapa avulsa. Para a etapa do mês de outubro de 2016, agendada para o Kartódromo RBC Racing, Paulo Apocalypse, piloto de kart amador desde 2015, aceitou o convite e encarou o desafio de participar de sua primeira corrida em kart F400.
“A compra de um kart partiu da ideia de praticar muito e tentar melhorar minha pilotagem. Isso não aconteceu, morando longe de Betim e sendo inviável o aluguel do box no RBC devido ao pagamento anual, o kart ficou mesmo na garagem de casa. Surgiu então o convite para participar de uma corrida da ADPkart, oportunidade única de ir para pista e sentir como é estar no meio de pilotos experientes com seus mecânicos em um dia de treinos, acertos, consertos, tomada de tempo e corrida. Sem pensar duas vezes, e mesmo sabendo das limitações, aceitei.”, contou Paulo em entrevista concedida exatamente um ano após a corrida.
Durante todo aquele mês, o piloto revisou seu kart por completo. Pintou a carenagem de verde, rendendo o apelido de “geleia 22” ao seu bólido. Levou o motor para revisão para quem entende do assunto. Helon Lopes, preparador de motores e também piloto da ADPkart. Grande apoiador do The Kart desde o dia de sua fundação, Paulo fez questão de levar o então recém-criado grupo consigo para a pista. No dia da corrida, colou o adesivo The Kart na carenagem juntamente com um dos patrocinadores do grupo.
“Parecia que estávamos indo para a corrida do século. Recrutado como chefe de box, mecânico, engenheiro e para o que mais precisasse, Lucas Prates [diretor geral do grupo] estava disposto a honrar nossa participação no ADPkart.”
Paulo sabia que não teria chances de vitória, em parte por não ter o hábito de treinar em um F400, mas principalmente pela limitação de seu equipamento. Seu kart, com chassi Mini 2001, pneus usados e motor de aproximadamente 18HP não era páreo para os concorrentes, que tinham em mãos karts muito mais novos e melhor preparados. Como a ADPkart não restringe a potência do motor, os pilotos fazem várias modificações na mecânica do kart e conseguem atingir impressionantes 24HP de potência.
“Nos primeiros testes o geleia se comportava bem. Eu achando que estava andando rápido, o pé já afundava no assoalho do kart de tanto acelerar, e os outros pilotos me passavam como se eu estivesse parado na pista. Realmente a diferença de potência impossibilitava qualquer tentativa de disputa.”
“Em um determinado momento senti o kart sem controle, uma roda traseira levantada e o assoalho arrastando pela pista. Fui parar na grama. Depois de recolher o kart para os boxes, constatamos que havia perdido os parafusos que seguram o rolamento com o eixo traseiro no lugar. Mais que isso, as roscas espanaram.”
O imprevisto gerou muita incerteza. Paulo e Lucas pensaram em abortar os planos e não participar da corrida. Os recursos, e até mesmo as ferramentas no dia eram escassas. Mas ideias surgiram, e com o apoio dos amigos, resolveram seguir em frente, improvisando.
“Tive a ideia de colocar outros parafusos com cola, na esperança de conseguir ao menos terminar a corrida. Conseguimos pegar 3 parafusos com os outros pilotos e então fizemos o dispositivo provisório (gambiarra). Isso quase fez nosso diretor querer rasgar seu diploma de engenharia, mas não deixei.”
Depois disso, nada de treinos, para poupar equipamento. Paulo foi direto para a corrida. O objetivo era apenas receber a bandeira quadriculada. Na tomada de tempo, a última colocação já era imaginada. Ficou a mais de seis segundos do piloto mais rápido. Na largada ainda deu azar de não conseguir escapar de um acidente à frente, e com isso acabou batendo nos pneus e perdendo o bico do kart.
Paulo voltou para a corrida e a partir daí sua disputa era contra o cronômetro.
“Continuei, vendo o asfalto engolir a frente do kart, uma sensação estranha de pilotar assim. Fui até o fim, terminei a corrida.”
Correndo sozinho, Paulo quase não cometeu erros e conseguiu extrair o máximo que o kart permitia, quando não era perturbado pelas bandeiras azuis. Incentivado a todo momento por sua “equipe” e pelos amigos à beira da pista, completou a corrida a duas voltas dos líderes, e virando cerca de quatro segundos mais lento que eles, mostrando uma significativa evolução durante a disputa.
Após o término, Paulo e Lucas foram conferir o kart e tiveram uma grande surpresa: dos três parafusos improvisados, dois já não estavam mais lá. O kart completou a corrida com apenas um parafuso segurando todo o conjunto do eixo traseiro. Depois de um dia inteiro de muita luta, eles não mereciam um desfecho diferente.
Paulo acabou desclassificado, pois o regulamento proíbe os pilotos de competirem sem parte da carenagem. Mas o sentimento de superação e de dever cumprido superou o resultado oficial. Um grande exemplo de que realmente, o importante é competir.
“No balanço geral foi um dia único, a experiência de estar ali e passar por tudo isso foi maravilhosa. O investimento financeiro para o dia foi muito alto, kart profissional é para a pessoa que tem condições de gastar. Sem contar acidentes que podem acontecer e gerar mais custos.”
Meses depois do evento Paulo acabou vendendo o geleia, e adiando por algum tempo a vontade de participar mais uma vez de uma competição de karts F400.
A corrida você pode assistir na íntegra a seguir, ou no canal do The Kart no Youtube.
O The Kart Championship agradece e parabeniza o empenho de Paulo. No dia-a-dia das competições, nos briefings, em conversas informais, o The Kart sempre destaca o espírito esportivo, a amizade, o respeito, e a prática do kartismo por diversão. Perceber que os pilotos do grupo compartilham das mesmas ideias, e vê-los com a mesma postura em outras competições faz todo o trabalho dos organizadores valer a pena.
O The Kart também aproveita para mandar abraço a todos os amigos que participaram daquele dia, em especial Marcus Vinícius, Magalhães, Renatão e Helon. E deixa um recado a seus pilotos: o The Kart está à disposição para novos convites de aventuras inesquecíveis como esta.
Redação e fotos: Lucas Prates